LÍNGUA
PORTUGUESA
PROFESSORA:
VENNISTELA
Leia o texto abaixo e
responda às questões de nº 01 a 10.
TROPEÇOS
A GRAÇA E
A LÓGICA DE CERTOS ENGANOS DA FALA
O
compenetrado pintor de paredes olhou as grandes manchas que se expandiam por
todo o teto do banheiro do nosso apartamento, as mais antigas já negras, umas
amarronzadas, outras esverdeadas, pediu uma escada, subiu, desceu, subiu,
apalpou em vários pontos e deu seu diagnóstico:
–
Não adianta pintar. Aqui tem muita “humildade”.
Levei
segundos para compreender que ele queria dizer “umidade”. E consegui não rir.
Durante a conversa, a expressão surgiu outras vezes, não escapara em falha
momentânea.
Há
palavras que são armadilhas para os ouvidos, mesmo de pessoas menos humildes.
São captadas de uma forma, instalam-se no cérebro com seu aparato de sons e
sentidos – sons parecidos e sentidos inadequados – e saltam frescas e absurdas
no meio de uma conversa. São enganos do ouvido, mais do que da fala. Como
otropeção de uma pessoa de boas pernas não é um erro do caminhar, mas do
ver.Resultam muitas vezes formas hilárias. O zelador do nosso prédio deu esta
explicação por não estar o elevador automático parando em determinados andares:
– O computador entrou em “pânico”. Não sei se ele conhece a palavra “pane”.
Deve ter sido daquela forma que a ouviu e gravou. Sabemos que é “pane”, ele
assimilou “pânico” – a coisa que nomeamos é a mesma, a comunicação foi feita.
Tropeço também é linguagem.O cheque bancário é freqüentemente vítima de um
tropicão desses. Muita gente diz, no final de uma história de esperteza ou de
desacordo comercial, que mandou “assustar” um cheque. Pois outro dia encontrei
alguém que mandou “desbronquear” o cheque. Linguagens... Imagino a viagem que a
palavra “desbloquear” fez na cabeça da pessoa: a troca comum do “l” pelo “r”, a
estranheza que se seguiu, o acréscimo de um “n” e aí, sim, a coisa ficou
parecida com alguma coisa, bronca, desbronquear, sem bronca. Muita palavra com
status de dicionário nasceu assim. Já ouvi de um mecânico que o motor do carro
estava “rastreando”, em vez de “rateando”. Talvez a palavra correta lhe
lembrasse rato e a descartara como improvável. “Rastrear” pareceria melhor
raiz, traz aquela ideia de vai e volta e vacila, como quem segue um rastro...
Sabe-se lá. Há algum tempo, quando eu procurava um lugar pequeno para morar, o
zelador mostrou-me um quarto-e-sala “conjugal”. Tem lógica, não? Muitos erros
são elaborações. Não teriam graça se não tivessem lógica. [...]
(ÂNGELO,
Ivan. Tropeços. Veja-SP, São Paulo:Abril, 23 abr.2003)
01. - Leia, com
atenção, os períodos seguintes:
Há algum tempo, quando
eu procurava um lugar pequeno para morar... (L.25/26)
Não teriam graça se
não tivessem lógica. [...] (L.27)Há algum tempo, quando eu procurava um lugar pequeno para morar... (L.25/26)
Assinale a
alternativa que apresenta, respectivamente, as relações semânticas
estabelecidas pelas orações sublinhadas:
A) tempo, concessão,
comparação
B) condição,
concessão, finalidadeC) condição, conseqüência, comparação
D) tempo, condição, finalidade
E) causa, condição, conseqüência
02. A forma verbal
assinalada está concordando no singular por se tratar de um verbo impessoal na
alternativa:
A) “O compenetrado
pintor de paredes olhou as grandes manchas...” (L.1)
B) “ Há palavras
que são armadilhas para os ouvidos...” (L.7)C) “E consegui não rir.” (L.5)
D) “Talvez a palavra correta lhe lembrasse rato...” (L.23/24)
E) “ Tropeço também é linguagem.“ (L.15/16)
03. Na construção de um
texto, a fim de garantir a coesão textual, ocorre a substituição de termos por
outros, que referenciam o que foi dito anteriormente. A palavra destacada tem
sua referência correta em:
A) “Não sei se ele
conhece a palavra “pane”. – computador (L.14)
B) “Levei segundos
para compreender que ele queria dizer “umidade” (L.5). - diagnósticoC) ”Talvez a palavra correta lhe lembrasse rato...” (L.23/24) – motor
D) “...as mais antigas já negras, umas amarronzadas...” (L.2)- paredes
E) “...instalam-se no cérebro com seu aparato de sons e sentidos...” (L.8) – palavras
04. O vocábulo
destacado pode ser substituído pela palavra indicada, sem que haja alteração de
sentido,em:
A) “...como quem
segue um rastro...” (L.25) - vestígio
B) “ ...instalam-se
no cérebro com seu aparato de sons e sentidos...” (L.8) - simplicidadeC) “Resultam muitas vezes formas hilárias.” (L.11) - desconhecidas
D) ”Muitos erros são elaborações.” (L.26/27) - misturas
E) “O compenetrado pintor de paredes olhou as grandes manchas...” (L.1) - comportado
05. “... ele assimilou
“pânico” – a coisa que nomeamosé a mesma...” (L.15)
A substituição do
conectivo assinalado por outro, atendendo- se às normas de
regência verbal, ocorre em:
A) ele assimilou
“pânico” – a coisa a que qualificamos é a mesma..
B) ele assimilou
“pânico” – a coisa por que nos referimos é a mesma..C) ele assimilou “pânico” – a coisa a que aludimos é a mesma..
D) ele assimilou “pânico” – a coisa com que nos interessamos é a mesma..
E) ele assimilou “pânico” – a coisa de que designamos é a mesma..
06. Considerando os
modos de organização do discurso, o texto de Ivan Ângelo apresenta passagens
que podem ser classificadas como narrativas, como se constata no trecho:
A) “Há palavras que
são armadilhas para os ouvidos, mesmo de pessoas menos humildes.” (L.7)
B) “O cheque bancário
é freqüentemente vítima de um tropicão desses.” (L.17)C) “Muita palavra com status de dicionário nasceu assim.” (L.21/22)
D) “Muitos erros são elaborações. Não teriam graça se não tivessem lógica. [...] (L.26/27)
E) ”Já ouvi de um mecânico que o motor do carro estava “rastreando”.(L.23).
07. A principal
conclusão a que se pode chegar após a leitura do texto de Ivan Ângelo é que:
A) Os “erros”
geralmente se originam de falhas momentâneas da memória lingüística de um
falante.
B) Uma grande parte
dos “erros” cometidos pelos falantes de uma língua evidencia um raciocínio
linguístico lógico.C) Os “erros” cometidos pelos falantes poderiam ser facilmente resolvidos com o uso do dicionário.
D) A ocorrência maior ou menor dos “erros” está intimamente relacionada ao grau de escolaridade do falante.
E) A maioria dos “erros” é causada por perdas auditivas que acometem os falantes de uma língua.
08. A frase do texto
que melhor sintetiza as idéias do autor é:
A) “Há palavras que
são armadilhas para os ouvidos, mesmo de pessoas menos humildes.”B) “– O computador entrou em “pânico”.
C) “Tropeço também é linguagem. “
D) “Resultam muitas vezes formas hilárias.”
E) “Muita palavra com status de dicionário nasceu assim.”
09. No fragmento “pediu
uma escada, subiu, desceu, subiu, apalpou em vários pontos e deu seu
diagnóstico...” (L.2/3), as vírgulas são utilizadas para:
A) marcar um adjunto
adverbial deslocado
B) indicar a presença
de uma oração intercaladaC) mostrar que há uma quebra da ordem direta da frase
D) separar termos coordenados
E) assinalar a presença de um aposto
10. No texto, o autor
faz considerações sobre o modo de proceder dos falantes diante de palavras
desconhecidas. Para demonstrar sua tese a respeito desse fato lingüístico, o
autor usa como recurso principal:
A) a apresentação de
informações pressupostas ou subentendidas
B) o relato de
exemplos e casos concretosC) a citação de dados científicos e estatísticas
D) a caracterização pormenorizada de personagens
E) a progressão temporal dos enunciados
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